Trecho do livro " O símbolo Perdido " do escritor Dan Brown

Em ocasião de uma palestra de Robert Langdon no Teatro Sanders de Havard para 500 alunos, um deles argumenta:

[...]

- A gente não pode entrar na maçonaria. Os maçons são uma sociedade supersecreta!

- Supersecreta? É mesmo? – Langdon se lembrou do grande anel maçônico que seu amigo Peter Solomon ostentava com orgulho na mão direita. – Então por que os maçons usam anéis, prendedores de gravatas ou broches maçônicos à vista de todos? Por que os prédios maçônicos possuem indicações claras? Por que os horários das suas reuniões são publicados no jornal? – Langdon sorriu ao ver todas as expressões intrigadas. – Meus amigos, os maçons não são uma sociedade secreta … eles são uma sociedade com segredos.
- Dá na mesma – murmurou alguém.
- É? – desafiou Langdon. – Você diria que a Coca-Cola é uma sociedade secreta?
- É claro que não – respondeu o aluno.
- Bom, e se você batesse na sede da corporação e pedisse a receita da Coca-Cola original?
- Eles nunca iriam me dar.
- Exatamente. Para conhecer o maior segredo da Coca-Cola, você precisaria entrar para a empresa, trabalhar por muitos anos, provar que é de confiança e, depois de muito tempo, alcançar os mais altos escalões, nos quais essa informação poderia ser compartilhada com você. E então você assinaria
um termo de confidencialidade.
- Então o senhor está dizendo que a Francomaçonaria é como uma grande empresa?
- Só na medida em que tem uma hierarquia rígida e leva a confidencialidade muito a sério.
- Meu tio é maçom – entoou a voz aguda de uma moça. – E a minha tia detesta, porque ele não conversa sobre isso com ela.
Ela diz que a Maçonaria é tipo uma religião estranha.
- Um equívoco muito comum.
- Mas então não é uma religião? – Façam a prova dos nove – disse Langdon. – Quem aqui assistiu ao curso do professor Whiterspoon sobre religião comparada?
Várias mãos se levantaram.
- Muito bem. Então me digam, quais são os três pré-requisitos para uma ideologia ser considerada religião?
- Garantir, acreditar, converter – respondeu uma jovem.
- Correto – disse Langdon. – As religiões garantem a salvação; as religiões acreditam em uma teologia específica; e as religiões convertem os não fiéis. – Ele fez uma pausa. – Mas a Maçonaria não se enquadra em nenhum desses três critérios. Os maçons não fazem promessas de salvação, não têm uma teologia específica, nem tentam converter ninguém. Na verdade, nas lojas maçônicas, conversas sobre religião são proibidas.
- Então … a Maçonaria é anti-religiosa?
- Pelo contrário. Um dos pré-requisitos para se tornar maçom é que você precisa acreditar em uma força superior. A diferença entre a espiritual idade Maçônica e uma religião organizada é que os maçons não impõem a esse poder
nenhuma definição específica ou nomenclatura. Em vez de identidades teológicas definitivas como Deus, Alá, Buda ou Jesus, os maçons usam termos mais genéricos como Ser Supremo ou Grande Arquiteto do Universo. Isso possibilita a união de maçons de crenças diferentes.
- Parece meio esquisito – comentou alguém.
- Ou, quem sabe, estimulante e libertador? – sugeriu Langdon.
- Nesta época em que culturas diferentes se matam para saber qual é a melhor definição de Deus, poderíamos afirmar que a tradição maçônica de tolerância e liberdade é louvável. - Langdon caminhou pelo tablado. – Além do mais, a
Maçonaria está aberta a homens de todas as raças, cores e credos, e proporciona uma fraternidade espiritual que não faz qualquer tipo de discriminação.
- Não faz discriminação? – Uma integrante da Associação de Alunas da universidade se levantou. – Quantas mulheres têm permissão para serem maçons, professor Langdon?
Langdon ergueu as mãos, rendendo-se.
- Bem colocado. As raízes tradicionais da Francomaçonaria são as guildas de pedreiros da Europa, o que a tornava, portanto, uma organização masculina. Centenas de anos atrás, há quem diga que em 1703, foi fundado um braço feminino chamado Estrela do Oriente. Essa organização possui mais de um milhão de integrantes.
- Mesmo assim – disse a mulher -, a Maçonaria é uma organização poderosa da qual as mulheres estão excluídas.
Langdon não sabia ao certo quão poderosos os maçons ainda eram e não estava disposto a enveredar por essa seara. As opiniões sobre os maçons modernos iam de um bando de velhotes inofensivos que gostavam de se fantasiar … até um conluio secreto de figurões que controlava o mundo. A
verdade estava sem dúvida em algum lugar entre essas duas concepções.
- Professor Langdon – disse um rapaz de cabelos encaracolados na última fileira -, se a Maçonaria não é uma sociedade secreta, nem uma empresa, nem uma religião, então o que é?
- Bem, se você perguntasse isso a um maçom, ele daria a seguinte definição: a Francomaçonaria é um sistema de moralidade envolto em alegoria e ilustrado por símbolos.
- Isso me parece um eufemismo para “seita de malucos”.
- Malucos, você disse?
- É isso aí! – disse o aluno, levantando-se. – Sei muito bem o que eles fazem dentro desses prédios secretos! Rituais esquisitos à luz de velas, com caixões, forcas e crânios cheios de vinho para beber. Isso, sim, é maluquice!
Langdon correu os olhos pela sala.
- Alguém mais acha que isso é maluquice?
- Sim! – entoaram os alunos em coro.
Langdon deu suspiro fingido de tristeza.
- Que pena. Se isso é maluco demais para vocês, então sei que nunca vão querer entrar para a minha seita.
Um silêncio recaiu sobre a sala. A integrante da Associação de Alunas pareceu incomodada.
- O senhor faz parte de uma seita?
Langdon assentiu com a cabeça e baixou a voz até um sussurro conspiratório.
- Não contem para ninguém, mas, no dia em que o deus-sol Rá é venerado pelos pagãos, eu me ajoelho aos pés de um antigo instrumento de tortura e consumo símbolos ritualísticos de sangue e carne.
A turma toda fez uma cara horrorizada.
Langdon deu de ombros. – E, se algum de vocês quiser se juntar a mim, vá à capela de Harvard no domingo, ajoelhe-se diante da cruz e faça a santa comunhão.
A sala continuou em silêncio.
Langdon deu uma piscadela.
- Abram a mente, meus amigos. Todos nós tememos aquilo que foge à nossa compreensão.

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