Colocam- te para refletir
Sobre o que já fez e não fez na vida.
Fazem- te gradativamente sentir
Que a Morte a teu ser profano convida.
Com badaladas te recebem,
Se adentrar mereceres,
Mostram-te que o bem
É teu dever fazeres.
Perfazes o simbólico caminho,
Guiado por um pássaro celestial.
Pode até pensares estar sozinho,
Mas preceptores, encontra teu ser carnal.
Quando completas a jornada,
Já juraste e muito aprendeste.
Em cada candelabro que vês, uma chama dourada
Simboliza virtudes que praticaste.
Palavras, gestos e símbolos passam-te
Os bons de altivo coração.
Luzes os deuses lançam-te...
Saíste definitivamente da escuridão.
O porvir a ti pertencerás:
Caberá a ti o lapidar.
Neófito, muito a aprender terás
E deverás nunca mais a sombra voltar.
O real segredo disso tudo
É o que nos trabalhos sentiste.
Importante quedares mudo
Sobre os rituais por que passaste.Thibaud Gaudin "
O que é Iniciação?No livro “Regressão e Espiritualidade” já realizamos uma explanação sobre a Iniciação. Dissemos que a iniciação é, em essência, um processo de morte e renascimento. Mas não a morte do corpo físico, mas a morte de aspectos inferiores de nossa natureza, para que o “novo homem”, como se refere a Bíblia, possa nascer a partir do velho. É quando passamos de um estado a outro; quando mudamos nosso modo de enxergar a vida a partir de uma nova perspectiva; quando enfrentamos uma provação séria, algo em nós entra em colapso, nosso psiquismo se desorganiza e, diante do caos, adentramos no mais profundo de nosso interior para buscar os recursos latentes e trazer à tona uma outra forma de organização da consciência, mais elevada e plena, transcendendo o velho e ao mesmo tempo o incluindo. Nesse momento, podemos dizer que, ao menos em parte, passamos por uma iniciação em nossa vida.
Para que esse ponto fique mais claro, vamos recorrer a exemplos conhecidos na História: as tentações de Jesus são a figuração mais conhecida de um processo iniciático. Para se tornar o Cristo, Jesus teve que enfrentar aquilo que ficou conhecido como o diabo. Buddha teve que enfrentar Maia, o demônio das ilusões. Orfeu precisou descer nos infernos e enfrentar Hades. Os xamãs descem aos reinos inferiores, são estraçalhados pelas entidades negativas, cortados e fragmentados, sofrendo toda sorte de impactos em seu ser para emergir dentro de uma nova forma de organização psíquica. No egito, os iniciandos eram colocados num sarcófago e experimentavam uma “morte simbólica”, onde eram levados a conhecer seu ser mais real e essencial e assim gravar essa consciência para sempre, até mesmo nas suas vidas futuras.
Muitas iniciações dentro de diferentes povos vai seguir este mesmo padrão. O adepto se coloca na posição de ser provado, então alguma ruptura ocorre, ele entra num estado de consciência mais profundo, há uma descida à zonas inferiores, ou seja, ele se depara com um estado de consciência de intensa negatividade, enfrenta o chamado “guardião do portal” ou “habitante do limiar”, trava algum tipo de disputa e após consumada a vitória, ele ascende em consciência adquirindo uma verdade sobre si mesmo e sobre o universo. Uma nova perspectiva se abre e tudo lhe parece incrivelmente mais claro e despido de ilusões.
E o que é este guardião do portal? Segundo Dion Fortune, o guardião do umbral, ou habitante do limiar, é o somatório de todas as nossas encarnações passadas, todos os nosso erros e todo o karma acumulado vem ao encontro da pessoa numa energia personificada. Assim, o habitante do limiar é a energia do nosso karma que proibe a passagem de um estado a outro. Geralmente é encontrado em iniciações. O iniciando deve vencer o guardião, que implica em vencer sua natureza inferior e conquistar a maestria de si mesmo. Ou seja, o guardião do portal é uma projeção de nossas próprias imperfeições, que devem ser vencidas pelo iniciados quando este se submete ao teste onde deverá canalizar todas as suas energias para vencer sua própria escuridão.
Por outro lado, o guardião também é encarado como um personagem, simbólico ou real, espírito ou ser de hierarquia, que guarda certo portal de acesso aos mistérios maiores, ou seja, a um conhecimento muito mais profundo, que traz nova perspectiva de vida, nova visão dentro de um novo panorama existencial. Assim, o guardião é um ser que zela para que nenhuma pessoa que não seja merecedora de ultrapassar o portal consiga seu intento.
Rene Guenon, grande expoente das tradições de sabedoria da atualidade, explica o significado da Iniciação: “A iniciação tem fundamentalmente por objetivo ultrapassar as possibilidades desse estado [o estado individual humano] e de tornar efetivamente possível a passagem a estados superiores, e mesmo, finalmente, conduzir o ser para além de qualquer estado condicionado, seja ele qual for.”
Tudo indica que os maiores mistérios iniciáticos tenham vindo do Egito. Apesar de muitos egiptólogos negarem veementemente um conhecimento dito mistérico egípcio, alguns outros egiptólogos dão sustentação a essa hipótese. Os egiptólogos que lutam contrariamente a essa idéia argumentam que não há qualquer vestígio dos mistérios, nem em textos e tampouco em palavras egípcias que indiquem o sentido de um mistério arcano. Porém, como esperar que esse conhecimento sagrado e secreto, que seria velado zelosamente pelos grandes sacerdotes através dos milênios contivesse indicações explícitas de sua existência? Se o conhecimento é secreto, ele se torna mais difícil de ser procurado e comprovado, ainda mais se lembrarmos que estamos nos referindo a um saber ancestral multimilenar.
Podemos até mesmo ir além e considerar que a sabedoria dos egípcios é herdeira do conhecimento trazido da Atlântida, através do grande êxodo que promoveu as maiores migrações humanas de toda a História conhecida e desconhecida. A Tradição espiritual e algumas Ordens iniciáticas ensinam que, após a destruição do grande continente que submergiu após as guerras mágicas, os atlantes que previram a catástrofe conseguiram escapar pelo mar e viajaram a todos os continentes do mundo, fundando organizações que divulgaram a sabedoria iniciática da História da Atlântida.
Há inclusive um mito conhecido entre os povos tribais da Austrália que fala a respeito de grandes peregrinações de seus antepassados. Nesse época, considerada por eles como o “tempo do sonho” (alcheringa) esses seres quase “sobrenaturais” surgiram na Terra e realizaram viagens cansativas e de grande alcance ao redor do mundo. Conta o mito que, além de modificarem algumas paisagens por onde passavam, os seres também produziam certos animais ou plantas, e posteriormente, não se sabe como, eles desapareceram debaixo da terra. Seria esta uma narração real, porém exposta numa linguagem mítica, sobre os atlantes em suas viagens quando estes utilizaram seus conhecimentos mágicos e genéticos? Seriam os próprios australianos tribais descendentes dos ensinamentos atlantes e teriam eles guardado a sua memória?
Segundo Mircea Eliade, há três tipos básicos de iniciação, que diferem segundo seus objetivos, efeitos e alcance. O primeiro diz respeito a passagem da infância ou adolescência à idade adulta, muito comum em grande número de religiões tribais. Essas iniciações também são conhecidas como “ritos de passagem”, marcando etapas de amadurecimento do membro da tribo em sua ascenção à condição de adulto. Esses ritos iniciatórios podem ser encontrados em iniciações de adolescentes nos tempos pré-históricos (gruta de Montespan, 13.500 A.C.); na iniciação dos jovens na Grécia arcaica; na iniciação de upanaynma, no Hinduísmo; a iniciação dos índios mandan; as iniciações da áfrica negra entre os bambaras, dentre várias outras.
O segundo tipo de iniciação refere-se aos ritos de adesão a uma sociedade secreta, assimilando o influxo de sua egrégora, ou seja, do seu conjunto de símbolos, pensamentos, sentimentos, energias e essência, a reuniao de todas as potencialidades sutis que caracterizam uma organização no nível espiritual, conectando o novo adepto sintonizado à energia de todos os Mestres e iniciados que nos precederam e que vivem no plano imaterial. Isso ocorre dentro do âmbito de uma ordem, fraternidade ou confraria de iniciados. São exemplos a franco-maçonaria, a Rosacruz primitiva, as fraternidades druidicas, a ordem pitagórica, a Ordem dos Templários, a Ordem dos Drusos, a Ordem do Olho de Hórus de Alexandria dentre várias outras.
O terceiro tipo, sem dúvida o mais elevado, é aquela iniciação que conduz o adepto a uma experiência de intensa vivacidade dos princípios da vida; ele sente a unidade com a vida e com tudo o que nela contém, tratando-se de uma experiência rara dentro da realidade comum da maioria. Jesus descreveu de forma simples essa experiência quando disse: “Eu e o Pai somos Um”.
De acordo com Theon de Esmirda, que escreveu sobre os mistérios no século II D. C. a iniciação é constituída de cinco partes. A purificação (selecionar aqueles que realmente desejam o mistério daqueles que ainda estão impuros em pensamentos e intenção); a tradição das coisas sagradas, é a iniciação propriamente dita. Depois vem a plena visão, um grau superior de iniciação. A quarta, que é o fim e o objetivo da plena visão é a ligadura das cabeças e a imposição das coroas, que tem como objetivo preparar aquele que obteve a visão e o contato com a tradição possa transmiti-la ao mundo. Enfim, a quinta é considerada o coroamento de todas as precedentes, é ser amigo de Deus e gozar a felicidade que consiste em viver uma comunicação natural com Ele. Esse é o ponto onde o esoterismo, a iniciação e o misticismo se encontram. É o ápice da experiência religiosa: o sentimento de que o ser e Deus são uma unidade.
Nos dias atuais, há algumas organizações iniciáticas que preservam essa sabedoria ancestral e podem conferir iniciações autênticas, através de uma linhagem iniciática tradicional. Aqui encontramos uma certa polêmica. Em que consiste uma linhagem iniciática tradicional? Os iniciados respondem que uma linhagem iniciática é criada pelo primeiro grande iniciador e este confere sua primeira iniciação. É muito dificil definir o que é transmitido de iniciado a iniciado ao longo dos séculos, mas acredita-se que a transferência é de um certo poder que estabelece uma ligação à uma egrégora verdadeiramente tradicional, ou seja, tendo princípio num iniciado que deu o primeiro impulso de energia e consciência a uma certa tradição. Poucos sabem disso, mas um ótimo exemplo de iniciado foi Jesus, considerado o primeiro iniciador do cristianismo, tradição iniciática que foi fundada por ele mesmo, tendo posteriormente sido criada a Gnose, outro movimento iniciático e místico
Sua linhagem iniciática manteve-se viva através de dois milênios e alguns iniciados atuais são os portadores dessa chama sagrada. Encontramos essa mesma referência no Caibalion: “Não deixes apagar esta chama, mantida de século em século, nesta escura caverna, nesse templo sagrado. Não deixes apagar esta divina chama.”
Muito se fala das organizações que preservam essa sabedoria iniciática, mas onde podemos encontrar seus ecos na História? As principais organizações iniciáticas conhecidas na História são os mistérios do Egito, na grande pirâmide de Queophs e nos vários centros iniciáticos, como Saís, Busíris, Bubástis, Papremes, Ombos, Abidos. Os mistérios de Elêusis, na Grécia; os mistérios Órficos, também na Grécia; os mistérios de Mitra, em Roma; os mistérios do druidismo (povo Celta), na Gália e Irlândia; os mistérios dos Essênios, próximos de Jerusalém; algumas seitas gnósticas antigas; a corrente esotérica do Shingon budista, das palavras secretas (mantras) e da Yoga dos três mistérios; a Ordem dos drusos, entre o Líbano, a Síria e Israel; a tradição da cabala hebraica, movimento esotérico dentro do Judaismo; a confraria dos dervixes dançarinos do Sufismo, o esoterismo árabe; a corrente mística dos cátaros, o esoterismo dentro do Cristianismo; a franco-maçonaria, que dizem ser herdeira da sabedoria iniciática do Templo de Salomão e Hiran Abiff; o esoterismo da escola pitagórica de Crotona; os mistérios da Ordem dos Templários; os mistérios da Ordem da Rosacruz Primitiva, dentre outros.
Iniciação e Magia
E quais seriam as principais diferenças entre a iniciação e a magia? O mago visa utilizar as forças e energias universais e não necessariamente desenvolvê-las em si mesmo. Nesse ponto identificamos a principal diferença entre a magia e o a prática da iniciação espiritual. Enquanto a magia se concentra no controle do mundo natural e das entidades de vários tipos, a iniciação tem como objetivo buscar o controle de nossa própria energia para o despertar de nossa consciência. O iniciado desenvolve dentro de si as energias que o mago canaliza fora de si. A iniciação é uma via interna, um caminho que seguimos dentro de que e que tem reflexos fora de nós. A magia é uma via externa, que busca o contato com essas energias, espíritos e outras forças naturais para que seu caminho seja trilhado com maior domínio. O mago busca o poder para depois pensar no seu crescimento. O iniciado busca seu crescimento e o poder é apenas uma consequência.
O mago visa controlar as condições externas para viver bem e conseguir objetivos e não necessariamente para crescer e se melhorar. Alguns magos visam a sua evolução espiritual após a conquista de certo controle das forças naturais, porém, este caminho é extremamente mais propício ao erro, pois a tendência é a acomodação e a estagnação dentro do controle obtido. Além disso, a inteligência divina apenas mantém essa estabilidade com o respectivo controle por um tempo. Tão logo o mago vem a se fixar num estilo de acomodação, as leis naturais tratam de criar certa instabilidade para confrontar o conformismo que ele mesmo criou.
O iniciado, por seu turno, aceita a imprevisibilidade da vida como parte integrante das condições naturais do mundo e procura o equilíbrio tanto na tempestade quanto na bonança. O iniciado não domina as condições externas intencionalmente, mas esse domínio é diretamente proporcional ao domínio que obtém em seu terreno interior, de onde brota a ordem ou o caos. O iniciado julga o exterior como um reflexo do interior. Assim, se concentra na harmonia que vem de dentro para que esta se projete para o mundo e crie nele a harmonia que ele já possui internamente.
Outra diferença essencial entre o iniciado e o mago, que se faz de suma importância ressaltarmos aqui, é a que concerne ao método de interagir com os planos superiores da consciência universal. Tanto o mago quanto o iniciado sabem que o universo é multidimensional, ou seja, foi criado dentro de uma hierarquia de planos ou camadas concêntricas que representam estados de consciência mais ou menos elevados. Tendo consciência da natureza do universo dividida em planos superiores e inferiores, o mago vai procurar interagir com os planos superiores, da mesma forma que o iniciado. Isso é de grande valor espiritual, pois os planos mais elevados detêm potencialidades que os planos inferiores não possuem.
Assim, qual é a postura do mago? O mago procura fazer, mediante técnicas e capacidades diversas, que os planos imediamente superiores desçam até ele e se apresentem de uma forma conscientizável, ou seja, perceptível e inteligível em sua consciência concreta e objetiva. Esse é o caso do mago teurgista, que entra em contato com seres de hierarquia de níveis cósmicos, como anjos, devas, gênios e outros. Esses seres apresentam-se a ele e assim o contato se estabelece. E o que faz o iniciado? Ao contrário de forçar a descida das forças superiores, o iniciado procura ascender ao nível mais elevado e comungar mais diretamente com a energia e a consciência própria desses planos cósmicos. Enquanto o mago faz descer à manifestação algo superior, o iniciado transmuta-se nesse mesmo algo superior, procura despertar o elevado dentro dele mesmo, e assim a relação se estabelece de forma direta e fluida.
As iniciações visam o despertar gradual dos poderes latentes na alma. Com maior ênfase, as diferentes iniciações ao longo do percurso objetivam o desenvolvimento dos centros psíquicos do homem, ou seja, seus chakras, os sete vórtices de energia e consciência que estão ligados aos sete vórtices ou centros de vibração primordial do cosmos. Quando o iniciado desenvolve um desses centros, através de práticas que podem durar anos, décadas e até várias existências no plano físico estudando e praticando nas escolas de mistério, ele passa a manifestar toda a vibração desse centro cósmico, e a partir disso, como conseqüência, passa a se integrar dentro de um dos sete principais “Aspectos” da Consciência Cósmica. Reunidos, esses centros formam um único centro total, uma unidade de criação divina que tudo anima e tudo permeia. O iniciado descobre em si mesmo o poder que o mago tenta descobrir e ativar fora de si, através das forças, energias e consciências que rodeiam o mago. O mago canaliza de fora, o iniciado canaliza a partir de dentro.
(HUGO LAPA)
Atendimento com Terapia de Vidas Passadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.